quinta-feira, 9 de junho de 2016

Isolamento de Temer se agrava e já se fala na hipótese de sua renúncia

A Veja brincou com essa história da república da mesóclise, mas a coisa
é séria: o Palácio do Planalto foi invadido por gente anacrônica, feia,
com palito de dente na boca, rinsagem no bigode e uma disposição
incontrolável para a safadeza, para a mentira, para a burla com a coisa
pública. Fora com eles!

(ilustração: Revista piauí, 117, junho/2016)
"Não é um apoio cego; é um apoio com cobranças", disse um esperto executivo em meio ao ambiente carregado de segundas intenções. Ou seja, sem compensações, nada feito. Como não são esperados bons resultados desse modelo recessivo estúpido e anti-social que Meirelles tenta impor goela abaixo de todo o país, o que importa é ver se sobra algum para a turma do capital - que já percebeu que é hora de tirar as tais vantagens relativas da relação custo-benefício, como diria o bobão do Armínio Fraga. O melhor resumo desse quadro pode ser lido em duas matérias do El País que interpreto como sensíveis ao clima de desarrumação em que o país vive. Vale a pena ler: Por que o empresariado apoia a gestão Temer? e Um governo em busca de aplausos na área econômica.

Outros fatos vêm da órbita política - espaço no qual o interinato espúrio se comporta com um peixe fora d'água: as pesquisas do DataFolha divulgadas ontem, apesar de todo o malabarismo feito pelos jornais para destacar algum índice que pudesse despertar no "governo" um pequeno otimismo que fosse, não conseguiram esconder uma verdade clamorosa: quase 88% dos entrevistados não querem Temer - ou porque sua equipe e ele próprio são vistos como extremamente corruptos ou porque são incompetentes, problemas já apontados nas críticas que se faz ao cara. Segundo fontes próximas ao gabinete do interino, ao ler as primeiras informações edulcoradas e adocicadas no blog de Fernando Rodrigues, Temer, apoplético, teria esmurrado a mesa seguidas vezes.

Não é para menos. Cobrado (e criticado) pela ousadia de ter pedido a prisão de Renan, Jucá, Cunha e Sarney, Janot bateu pesado: a cúpula do PMDB acertava versões para torpedear a Lava Jato, numa clara prática de obstrução da Justiça - o que configuraria crime de formação de quadrilha. Como em lugar nenhum do mundo quem faz isso fica solto, circulava entre os ministros a constrangedora expectativa de que algumas prisões poderiam ser feitas e todas elas extremamente comprometeras do papel que Temer, como presidente do partido, teve nisso tudo.

Com olhar distante, ensimesmado e perdido em divagações sobre as armadilhas que o destino prega nos obsessivos pelo poder, Temer deve ter sentido desconforto com a secura de Brasília, uma cidade cruel com todos os governantes, e deixou-se levar então pela pior das ideias: a constatação de que não há sonhos, não há utopias. O que há, disse aos jornalistas antes de receber os interesseiros empresários, são resultados. Um aforismo idiota desses, parecido com o de Tatcher no ápice de seu reinado, é tudo o que o pais não precisa ouvir, pois resultados (exceto os negativos) é o que o interino tem de menos para mostrar. Terá sido um sintoma de alienação? Pode ser, pode ser... mas os jornalistas cravaram o instante. Os do jornal Valor Econômico, por exemplo, deixaram que as próprias e bobas obviedades ditas por Temer no momento falassem por si: "O que as pessoas querem são resultados. Se forem negativos, as pessoas vaiam. Se forem positivos, aplaudem". Que coisa!

Na verdade, as atenções do interino estavam divididas entre o lero-lero dos empresários e o lero-lero dos deputados da comissão de ética da Câmara que faziam o diabo, com o apoio do Planalto, para salvar o canalha Eduardo Cunha da cassação. Amigo pessoal de Temer e apoiador de primeira hora do projeto que levou ao golpe do afastamento de Dilma, Dadinho (como é chamado em alguns círculos) já disse que leva com ele, de baciada, tanta gente que Brasília ficaria deserta, ameaça que deixa o interino de intestino preso. Mas e se for blefe? Por isso é que não se descarta a hipótese de que o staff do interino também pressiona pela cassação do homem. O que incomoda Temer, no entanto, é a crua constatação de que, com ou sem a cassação de Cunha, quem perde é ele. Vão dizer o quê, se Dadinho for cassado? Vão dizer o quê, se for absolvido? 

Quando pensa, então, na relação de quase 100 pessoas que Dilma vai apresentar como suas testemunhas de defesa, gente de inatacável reputação e respeito público, Temer fica com os olhos rasos d'água. Quem ele poderia levar? Janaína, a "jurista"? Cunha? Bolsonaro? Silas Malafaia? Não há ninguém do lado de cá que lhe sirva de apoio digno para manter o afastamento de Dilma... Pelo contrário: como afirma o dito popular, "com amigos desse tipo, não é preciso ter inimigos".

E o Ministro do Trabalho sendo vaiado na Suíça, os abaixo-assinados no mundo inteiro, aquele editorial no New York Times concedendo ao interino a medalha de ouro da corrupção, o Serra saindo pela porta dos fundos dos aeroportos? Quanta vergonha, deve ter encasquetado o pequeno Temer...

O problema todo é que sob esse mundo de conflitos há um país inteiro que não vê a hora de entrar nos eixos. Eu, por exemplo, não aguento mais escrever sobre a vulgaridade dessas práticas políticas e gostaria de dedicar meu precioso tempo a reflexões de natureza acadêmica, mas... Até onde consigo perceber, há hoje no Brasil, de forma difusa, uma sensação de cansaço e de decepção com a incapacidade dos poderes do Estado em absorver e resolver as várias dimensões da crise - que me parece estar na dependência de que a Justiça seja feita com a presidente eleita Dilma Rousseff. Quem sabe em algum momento de espasmo de lucidez Temer não resolve começar com seu próprio exemplo a colocar um ponto final na maior farsa política que o Brasil já viveu...

Eu acho que Temer não se segura, diz Juca Ferreira (Mídia Ninja) * Pré-candidato, Bolsonaro tenta criar a extrema direita light (Folha) * As três prisões (Jânio de Freitas, Folha) * Planalto não crê em prisão da cúpula do PMDB (Josias de Souza, Folha) * Russomanno defende que Tia Eron vote por cassação de Cunha (Folha).

E com ele, todo o Brasil
(Ilustração, Midia Ninja)
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